terça-feira, 23 de julho de 2013

ALFABETIZAÇÃO DIGITAL: MAIS QUE UM CONCEITO, UMA NECESSIDADE.


Os números revelam que a inclusão digital acontece, no mundo todo, inclusive no Brasil, de forma mais acelerada que o previsto. A expansão dos cabos de fibra ótica, a ampliação dos serviços de banda larga, os equipamentos móveis como celulares e tablets, a queda no preço dos equipamentos e outros acontecimentos estão fazendo com que até mesmo as pessoas mais humildes tenham acesso aos computadores e a web.
As escolas particulares e as redes públicas de ensino, do ensino fundamental a universidade, também foram incorporando as tecnologias ao seu repertório de ações pedagógicas e administrativas. Há um esforço evidente para que as ferramentas se transformem, efetivamente, em meios através dos quais a educação possa ser trabalhada com melhores resultados, com maior qualidade.
Ainda assim há lacunas que não foram preenchidas corretamente e que repercutem na sociedade. Há, por exemplo, uma distância clara entre disponibilizar recursos e acesso e realizar uma efetiva e necessária alfabetização digital.
Por alfabetização digital entenda-se, de passagem, nos referirmos ao preparo e capacidade de utilização das Tecnologias de Informação e Comunicação de forma plena, ou seja, valendo-se de suas possibilidades múltiplas, em suas diferenciadas plataformas, compondo a partir das ferramentas encontradas para melhorar o desempenho, a ação e a condição de trabalho e realização.
Significa, por exemplo, entender como funcionam recursos como planilhas, processadores de texto, apresentações em slides, comunicadores virtuais, redes sociais, ferramentas de edição de vídeos e músicas e tantas outras funcionalidades que estão presentes no universo digital.
A compreensão do funcionamento destes recursos é o primeiro passo para que seu uso aconteça e permita ao usuário ir além daquilo que intuitivamente atingiu no contato com estas ferramentas. Por uso próprio muitas são as pessoas que começaram e até hoje utilizam estas tecnologias. Não se pode desprezar e nem tampouco desperdiçar o tempo e o esforço despendidos para que isso acontecesse.
Na realidade, os computadores e as redes acabaram se tornando elementos importantes para que as pessoas percebessem o potencial e possibilidade de desenvolvimento por conta própria, em processo de autoaprendizagem, ou seja, capacitando-se individualmente, de forma espontânea, motivados pelo fascínio e elementos de interesse trazidos pelos computadores e pela internet.
Ainda assim, compete às escolas, como inclusive está sendo pensado e proposto nos Estados Unidos, a partir da Comissão Federal de Comunicações (Federal Communications Comission), a imprescindível tarefa de preparar alunos de diferentes faixas etárias a usar as tecnologias e incorporá-las a seus estudos, trabalho e vida cotidiana.
O que se tem visto é um crescente uso das tecnologias, com crianças e adolescentes utilizando recursos digitais (nos quais se incluem televisores, computadores, celulares e afins) por, em média, de 10 a 12 horas diárias, registrando crescimento de uso de 3 a 4,5 horas por dia em aproximadamente uma década.
Muito tempo tem sido dedicado à navegação sem rumo, sem objetivos claros, desprovida de interesse específico, seja para os estudos ou para o trabalho, por exemplo. Dedica-se muito tempo às redes sociais, ao entretenimento, a comunicação entre pares e, com isso, tem-se a constante e real percepção de tempo perdido, desperdiçado, no qual o usuário poderia aprender algo, realizar, produzir para si mesmo e para a sociedade.
Não que outras finalidades, relacionadas mais especificamente ao lazer e a informação não ligada ao estudo ou ao trabalho, sejam fúteis, descartáveis ou desnecessárias. O problema é o dispêndio de energia apenas ou principalmente direcionado a estas ações no mundo virtual. Neste sentido torna-se essencial a compreensão das tecnologias como elementos que nos permitem tanto o entretenimento quanto a produtividade nos estudos e no trabalho.
Nos Estados Unidos os estudos da Comissão Federal de Comunicações avaliam propostas de investir até 200 milhões de dólares para que professores e tutores especializados na utilização de softwares, internet e redes sociais, entre outros dispositivos e ferramentas, possam ensinar aos alunos, seus pais e toda a comunidade, como usar de forma correta, produtiva e focada os instrumentos das Tecnologias de Informação e Comunicação.
Um dos focos desta iniciativa norte-americana é, inclusive, o de fornecer elementos e conhecimento quanto as tecnologias aos desempregados para que eles se aperfeiçoem e se beneficiem destes saberes ao pleitear novas colocações e, até mesmo, diferentes ocupações no mercado de trabalho.
De qualquer modo, é importante atentar para o fato de que no mundo em que vivemos, com recursos sendo disponibilizados para nossa utilização em quantidade e velocidade para que os tenhamos em casa, na escola, no trabalho e mesmo em locais públicos, como repartições governamentais, bancos ou supermercados, precisamos aprender a fazer melhor uso de todos estes mecanismos.
alfabetização digital é inclusiva, pois permite a quem sabe apenas intuitivamente, por uso, assim como para quem nada conhece, assim como para aqueles que já têm maior saber na área, ingressar de vez no universo virtual. Não pode, no entanto, ser pensada apenas como capacitação tecnológica, vai além disso, pois deve ser pensada e proposta, entendida e realizada como elemento que gera a compreensão do poder das ferramentas e do universo digital, suas consequências e responsabilidades.
Saber como utilizar tais tecnologias é apenas o primeiro passo, que deve ensejar, na continuidade desta inclusão digital, a compreensão do porque utilizar, das repercussões de uso, do compromisso que deve estar além do interesse individual, compreendendo também o respeito e o trabalho em prol de interesses coletivos e sociais.
Na escola aprendemos a ler, escrever, realizar cálculos, compreender a história, o funcionamento do corpo humano, as dimensões do universo, o pensamento científico e tantos outros saberes, criados e desenvolvidos ao longo de toda a existência de homens e mulheres neste planeta. Estes saberes são fundamentos que nos auxiliam a viver em grupo, compartilhar, trabalhar, construir, pensar, analisar, avaliar e tantas outras ações que nos caracterizam sendo, por isso mesmo, compreendidos tanto o ensino quanto a aprendizagem destes conhecimentos como parte essencial da construção da própria identidade dos seres humanos.
As tecnologias consistem, neste sentido, no atual estágio da evolução da humanidade, quesito adicional de suma importância que precisa ser integrado ao cotidiano para uso, como de fato já está a acontecer, com a incorporação de tantos recursos em tão pouco tempo, quanto principalmente, no que se refere ao entendimento do que tudo isso significa para cada um e para todos.



O computador vai substituir o professor?



O diálogo que vou propor nesta coluna é sobre a escola. Acho que precisamos conversar sobre isso. A Internet está trazendo consigo um novo modelo de educação, uma forma diferente de aprendizagem, e precisamos entendê-lo, apropriar-nos disso, ser protagonistas da mudança.

Precisamos conversar principalmente porque a existência dessa grande rede nos faz pensar na escola que temos, ainda tão fechada, limitada, desconectada do mundo, da vida do aluno; ainda tão distante da realidade de imagens, sons, cores e palavras em hipermídia que constitui a nossa vida hoje.

Precisamos conversar sobre nossos sonhos para a escola, pois, se vocês não sabem, há séculos nós, pedagogos, acumulamos sonhos sobre a sala de aula. Ivan Illich sonhava com uma educação que não fosse limitada às instituições, que formalizam tudo. Jean-Jacques Rousseau pensava numa escola que não corrompesse o homem, deixando simplesmente vir à tona o que temos de melhor. Jean Piaget queria que os níveis mentais fossem respeitados, sem pular etapas, para que não tivéssemos que aprender aos saltos, ou decorar o que não entendemos. Freinet sonhava com uma escola que permitisse o prazer, a aprendizagem agradável e divertida. Paulo Freire sonhava com um lugar em que o saber do aluno fosse valorizado, onde a relação vivida nas aulas fosse o ponto de partida para uma grande transformação do mundo. Goleman escreve sobre uma escola que permita desenvolver o lado emocional, que tenha espaço para as artes, a música, as coisas que, enfim, nos fazem mais humanos.

Mas não soubemos concretizar muitos desses sonhos. Talvez ainda não tivemos tempo, porque era preciso primeiro preparar aulas, corrigir provas, anotar no quadro e nos cadernos tantas e tantas explicações.

De repente a tecnologia entra na escola e nos obriga a recuperar tudo isso. A presença da máquina leva todo professor a se perguntar: como é a minha aula? Do que decorre: será que o professor vai ser substituído pelo computador? E sabemos que a resposta é sim, não temos a menor dúvida. Explico: é que o pior de nós vai ser substituído.

A nossa pior aula, o lado repetitivo, burocrático e por vezes até acomodado da escola, esse vamos deixar para o computador. Ele saberá transformar nossas exposições maçantes em aulas multimídia interativas, em hipertextos fascinantes, em telas coloridas e interfaces amigáveis preparadas para a construção do saber. Então poderemos, finalmente, ficar com a melhor parte, aquela para a qual não nos sobrava tempo, porque pensávamos que devíamos transmitir conhecimentos.

Vamos receber de herança os sonhos de todas as outras gerações, redimi-las realizando tudo o que não puderam conhecer. Agora sim, está em nossas mãos a derrubada dos muros para fazer conexões com o mundo, a criação do espaço para a arte e a poesia, o tempo para o diálogo amigo, o trabalho cooperativo, a discussão coletiva, a partilha dos sentidos. Está em nossas mãos a construção de uma escola mais feliz, feita por mestres e alunos que saibam, juntos, propor links e janelas para a sala de aula, onde aprender não seja uma tarefa árdua e penosa, mas sim uma aventura. Então será preciso que cada mestre se despeça da figura de professor transmissor de conteúdos que há em si mesmo, e que os alunos abandonem seu papel de receptores passivos. Isso é o pior de todos nós, não nos daremos mais a conhecer assim.

Vamos tentar construir juntos algo novo. É claro que nós, professores, vamos precisar de ajuda: os alunos saberão nos dizer como fazer. Será que eles aceitam ser nossos mestres? Acho que sim, é só por este próximo milênio. Nessa nova sala de aula, na verdade todos serão mestres.

E, curiosamente, a gente vai aprender como nunca.

Andrea Cecília Ramal (Módulo: Introdução à Educação Digital, Guia do cursista, pag. 166)